segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

o feudalismo digital manipula os dados das pessoas na internet,que degringolou depois do início promissor..

 não tenho nenhuma certeza, claro, é tudo baseado em algumas leituras,mas ouvi dizer que a internet começou assim mesmo com a ideia de interação entre as pessoas.... todo mundo adorou e achou que o mundo iria melhorar...mas depois que a gente ve o doc "dilema das redes" e "privacidade hackeada",ambos netflix, e o escandalo da cambridge analitic, percebe-se que a coisa degringolou de vez....nesses docs e no livro capitalismo de vigilancia, de shosona zuboff, fica claro que essas grandes empresas tipo google e face etc e tal, microsoft, apple, em relação com a nsa e o serviço de segurança norte-americanos, montaram um esquema de uso das rede para política e divisão e ódio........tudo para faturar em cima dos dados coletados das pessoas que estão viciadas na rede e dão de graça todos os seus dados pessoais, confessam tudo de graça....essas empresas pegam esses dados e faturam, vendendo para empresas produzirem publicidade, vendendo tudo o que vc já confessou querer....chamam a isso de capitalismo de vigilancia, mais literalmente feudalismo digital.....

domingo, 6 de dezembro de 2020

Descobrem na Argentina um manual da ditadura para espalhar notícias falsas

 “Notícias não verificáveis ​​criadas artificialmente são transmitidas, pretendendo representar eventos reais, circulando para um público-alvo selecionado e frequentemente comunicadas de forma imprecisa”.
Manual do “Gabinete do ódio”? Entreouvido numa reunião da Secom com youtubers? Estratégia não escrita de véspera eleitoral que ajuda a explicar tantas reviravoltas de última hora nas últimas eleições no Brasil?
Certamente também, mas o trecho acima, que algum dicionarista poderá aproveitar para melhor impossível definir as chamadas “fake news”, o trecho acima, dizíamos, consta em um documento chamado “Guia Para Planejamento de Ação Psicológica ‘S'”, datado de 1980 e da lavra da Side, famigerado órgão do aparato repressivo da ditadura argentina.
O “S” é de secreto. O jornal portenho Página/12 teve acesso ao documento, que acaba de ser encontrado na sede da Agência Federal de Inteligência da Argentina (AFI). Sente-se para ler as instruções da Side e aprecie as semelhanças com os modernos exércitos de trolls e disparos de Whatsapp:
Disseminar boatos baseados em preconceitos; difundir slogans sem autoria; espalhar memes, ou melhor, piadas ridicularizantes de oponentes; criar um clima de permanente desconfiança supersticiosa sobre a realidade; explorar a pornografia, no melhor estilo mamadeira de piroca.
“A chave está, a SIDE sabe, nas zonas cinzentas e em conhecer os humores sociais”, diz o Página/12, que pontua o fato de que o guia da “usina de notícias falsas” da Side foi impresso no momento em que a ditadura argentina passou a exportar seu “conhecimento” da repressão para outros países da região.
No rol de semelhanças com a desgraça hodierna, não falta sequer um clássico do fascismo à brasileira: “direitos humanos para humanos direitos”. O Página/12 lembra que em 1979, antes do manual e por ocasião de uma visita da Comissão Interamericana de Direitos Humanos à Argentina, a ditadura de Videla, Massera e Agosti fez circular o slogan “nós, argentinos, somos humanos e direitos”.
Se a ascensão da “nova direita” no Brasil está em grande parte ligada à reação de oficiais da ativa e da reserva das Forças Armadas aos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, talvez o apreço e o apelo desta direita fascista às chamadas “fake news” tenham algum tributo a pagar a velhas juntas militares da mentira.

sábado, 7 de novembro de 2020

CIBERNÉTICA : A quinta esfera da guerra Valentín Katasonov 07.Nov.20

 Há muito que os EUA (e seus aliados, com destaque para a Grã-Bretanha) clamam contra os “ataques cibernéticos russos”. A verdade é que são os EUA quem conduz uma activa guerra cibernética, cujos principais alvos têm sido o Irão e a Rússia. O espantalho da «interferência russa» foi particularmente agitado a propósito das eleições presidenciais de 2016 nos EUA (e também a propósito do “Brexit”). Seja qual for o resultado das eleições presidenciais de agora, o que é de esperar é uma forte intensificação dos ciberataques EUA contra a Rússia.

Os ciberataques norte-americanos contra a Rússia podem expandir-se dramaticamente neste outono.
Os Estados Unidos vêm travando uma guerra cibernética contra a Rússia há pelo menos dez anos. Como diz Richard A. Clarke, conselheiro de segurança da administração presidencial dos EUA durante o governo Bush Jr., disse em Cyber War (HarperCollins, 2010): “A guerra cibernética são as acções de um Estado nacional para se infiltrar nos computadores ou redes de outro estado nacional, a fim de atingir o objectivo de causar danos ou destruição”.
Há dez anos, a revista britânica The Economist chamou ao ciberespaço “a quinta esfera da guerra, depois da terra, do mar, do ar e do espaço exterior” [ ]. Pode presumir-se que uma guerra cibernética em larga escala contra a Rússia começou em 2009, quando foi criado o Comando Cibernético dos Estados Unidos (USCYBERCOM). Desde o início, a Rússia encontrou-se na shortlist de países-alvo das operações planeadas pelo US Cyber Command.
A guerra cibernética tem duas áreas principais: 1) a inteligência cibernética (espionagem cibernética); 2) os ataques cibernéticos.
A espionagem cibernética contra a Rússia foi realizada ainda antes da criação do Comando Cibernético dos EUA através da NSA, da CIA, da inteligência militar e de outros serviços especiais. Tudo isto foi bem descrito por Edward Snowden. Mas os ciberataques começaram a ocorrer desde o início desta década; a sua frequência e escala aumentam a cada ano. As principais áreas de operações activas no quadro da ciberguerra são: 1) destruição e danos às informações electrónicas do inimigo; 2) propaganda: colocação de materiais de propaganda no espaço de informações do inimigo; 3) bloqueio de serviços (interrupção do funcionamento de sites ou sistemas informáticos); 4) interferência no funcionamento dos equipamentos, seu desligamento ou avaria (ataques aos computadores que servem ao funcionamento dos referidos equipamentos).
Podem ocorrer danos em grande escala como resultado de ataques a computadores que sustentam a vida das cidades, a sua infraestrutura (sistemas de comunicação, sistemas de abastecimento de água, redes eléctricas, brigadas de bombeiros, transporte urbano, etc.). Existe a possibilidade de bloquear o funcionamento de grandes empresas industriais, instituições bancárias, empresas de transporte, centrais eléctricas, etc. Finalmente, o objecto dos ataques cibernéticos podem ser sistemas de governo, forças armadas, sistemas de armas complexas. Em 2010, deixaram claro ao mundo que os Estados Unidos podiam bloquear a operação de instalações estrategicamente importantes com a ajuda de “armas digitais”. Em seguida, os serviços de inteligência dos Estados Unidos, juntamente com os serviços de inteligência israelitas, conseguiram infligir graves danos às centrifugadoras de uma instalação nuclear iraniana Natanz usando o vírus informático Stuxnet.
Durante muito tempo, Washington ocultou cuidadosamente o facto da guerra cibernética contra a Rússia. As actividades do Comando Cibernético dos Estados Unidos e as organizações sob seu comando que realizam operações de guerra cibernética foram classificadas de maneira confiável. Ao mesmo tempo, mesmo durante a gestão do presidente Barack Obama, Washington acusou Moscovo de travar uma guerra cibernética contra os Estados Unidos. Quaisquer ataques de hackers levado a cabo nos Estados Unidos contra agências governamentais, bancos, instalações de infraestrutura, etc., foram quase sempre qualificados por Washington como “intrigas de Moscovo”. Dizem que os ataques são realizados por pessoas por trás das quais está o Kremlin e que trabalham sob as ordens do Kremlin.
Sob o presidente Obama, recorreu-se a operações cibernéticas activas contra a Rússia e outros países, mas com cautela. A inteligência cibernética prevaleceu. Os ataques cibernéticos continuavam a ser raros, temiam o “efeito bumerangue”. Por exemplo, no governo de Obama, funcionários do Departamento do Tesouro dos EUA propuseram abster-se de ataques cibernéticos contra bancos estrangeiros, acreditando que tais acções poderiam minar o sistema financeiro global.
As acusações de que Moscovo está a travar uma guerra cibernética contra os Estados Unidos aumentaram drasticamente desde a chegada de Donald Trump à Casa Branca. Moscovo foi acusada de interferir nas eleições presidenciais de 2016 com a ajuda de “tecnologias digitais”. Dizem que houve uma influência activa de Moscovo no conteúdo da Internet e nas redes sociais a favor de Trump e contra os democratas.
O Comité de Inteligência do Senado dos EUA publicou este ano um quinto de um relatório secreto de investigação sobre a “interferência russa nas eleições de 2016″ (relatório de 6 de Janeiro de 2017). Aqui está um trecho desse evento: «O governo russo, numa atitude agressiva e multidimensional, influenciou ou tentou influenciar o resultado das eleições, e o presidente russo Vladimir Putin liderou pessoalmente esforços para piratear redes informáticas e contas associadas com o Partido Democrata dos Estados Unidos». Pessoalmente!
Passaram quatro anos desde essa campanha eleitoral, mas nenhuma evidência concreta da interferência cibernética de Moscovo no processo eleitoral dos EUA foi apresentada. Em Março de 2020, um tribunal dos Estados Unidos encerrou o processo contra a empresa russa Concord Management and Consulting, que era suspeita de “interferir” nas eleições norte-americanas. Houve também outras tentativas de processo legal contra pessoas físicas e jurídicas russas, mas todas terminaram em fiasco. Além disso, tem havido casos de perjúrio contra essas pessoas por alguns cidadãos dos EUA. O advogado especial Robert Mueller, que investigava o suposto conluio entre a Rússia e a equipa de Trump, foi forçado a demitir-se.
Mas não há dúvida de que Washington está a travar uma guerra cibernética contra a Rússia. O reconhecimento desse facto saiu da boca do Presidente dos Estados Unidos. Donald Trump, durante uma entrevista com o colunista do Washington Post Mark Thyssen na Sala Oval em Julho de 2020, admitiu que em 2018 autorizou um ataque cibernético encoberto contra a Agência de Investigação da Internet da Rússia, com sede em São Petersburgo. [ ] Alguns meios de comunicação norte-americanos chamaram-lhe uma “fábrica de trolls”.
E quantas dessas operações houve contra a Rússia! Ficamos a saber que algumas delas são obra dos serviços de inteligência dos EUA de ex-funcionários do governo dos EUA. O New York Times (NYT) publicou em Junho de 2019 um artigo sobre um aumento no número de ciberataques norte-americanos contra as redes eléctricas russas. Nestes artigos, os especialistas referiram-se a fontes não identificadas entre ex-funcionários do governo que forneceram esta informação relevante durante a entrevista [ ]. Observou-se que as redes eléctricas russas foram durante a primavera de 2019 alvo de ataques cibernéticos massivos por parte dos Estados Unidos. O objectivo dos ataques era injectar códigos maliciosos no sistema cibernético que puderam paralisar o funcionamento das redes eléctricas. A fuga de informação sobre esta operação especial enfureceu Trump.
Em Setembro de 2018, John Bolton, então conselheiro de segurança nacional de Donald Trump, anunciou que o presidente havia expandido as capacidades das agências de inteligência e dos militares para conduzir operações ofensivas no ciberespaço. Os detalhes apareceram dois anos depois. O Yahoo News publicou revelações de ex-funcionários da administração Trump sobre um decreto presidencial dos EUA de dois anos antes. O decreto de 2018 foi classificado [ ]; deu à CIA maiores poderes e ferramentas para realizar ataques cibernéticos. Este decreto liberou a CIA da necessidade de justificar a escolha do alvo do ataque (estruturas empresariais, media, ONG’s) mediante uma conexão com um estado “hostil”. Um dos ex-funcionários da administração presidencial dos Estados Unidos disse, sob condição de anonimato: «Anteriormente, era necessário durante anos recolher evidências (em dezenas de páginas) de que esta organização em particular está directamente relacionada com as autoridades envolvidas. Agora, se puder demonstrar-se de forma aproximada que está a agir no interesse do governo em questão, pode receber luz verde».
Além disso, um decreto secreto de 2018 concedeu à CIA autoridade adicional para conduzir operações activas destinadas a desactivar as instalações económicas e de infraestrutura. Por fim, a CIA recebeu carta branca para o uso mais amplo de uma ferramenta de guerra cibernética como a publicação de evidências comprometedoras sobre pessoas e entidades legais que estão na lista negra de Washington. O que, claro, requer uma inteligência cibernética mais activa em relação a essas pessoas.
Segundo Yahoo News, a CIA, que recebeu poderes adicionais, conduziu mais de uma dezena de operações activas nos últimos dois anos. É mencionado um ataque cibernético a três bancos iranianos supostamente ligados ao Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica. Isso acabou com o facto de os dados pessoais de milhões de depositantes dessas instituições de crédito terem chegado à Internet. Também foi mencionada a empresa russa SyTech, cujo servidor foi pirateado em Julho de 2019. Os atacantes conseguiram acesso a 7,5 TB de informação. Os documentos da empresa foram postados na rede, de onde decorre que era contratada do FSB e outros serviços especiais russos. Os piratas informáticos norte-americanos da CIA enviaram informação sobre vinte projectos não públicos da SyTech para os principais meios de comunicação. Os piratas informáticos de Tsereushnye compartilharam as informações obtidas com o grupo Digital Revolution, que um ano antes pirateou o servidor do Instituto de Pesquisa “Kvant”, que estava sob o controle do FSB.
Em Outubro de 2019, o secretário do Conselho de Segurança da Federação Russa, Nikolai Patrushev, informou que haviam sido realizados vários milhões de ataques cibernéticos na rede de organismos estaduais em vários distritos federais da Rússia. Quase todos eles foram rechaçados com sucesso. Acrescentou que os serviços de inteligência dos EUA e estrangeiros estão à procura de “pontos fracos” na infraestrutura de informações da Rússia para subsequentes ataques cibernéticos em grande escala. Portanto, a tarefa de manter e fortalecer a segurança das informações e digital da Rússia é cada vez mais urgente.
No final do ano passado, os media dos Estados Unidos informaram que a CIA e outros serviços especiais, sob a liderança geral do Comando Cibernético dos Estados Unidos, estavam a desenvolver tácticas para as eleições presidenciais de 2020 nos Estados Unidos (a serem realizadas em 3 de Novembro) Em particular, estão a considerar um cenário em que Moscovo interfere nessas eleições e em que Washington retorquirá com uma série de respostas cibernéticas a Moscovo. Se, em véspera das eleições, os serviços especiais sentirem o “incentivo” de Moscou, começarão a filtrar informações confidenciais sobre cidadãos russos suspeitos de interferência no espaço de informação (a liderança do FSB, o Ministério da Defesa, outros departamentos e possivelmente alguns oligarcas; com excepção do Presidente da Federação Russa).
Os especialistas assinalam que em 2016 o Conselho de Segurança Nacional dos EUA desenvolveu tácticas para uma guerra de informação com a Rússia durante a campanha presidencial e as próprias eleições, mas as reacções cibernéticas de Washington foram extremamente lentas. Desta vez, a CIA e outras agências de inteligência dos EUA prometem que as respostas a Moscovo serão duras. Como aponta o Washington Post em 18 de Dezembro do ano passado, as medidas desenvolvidas pelo Comando Cibernético dos Estados Unidos para as actuais eleições são tão diferentes das propostas em 2016 “como o dia e a noite”.
Não há dúvida de que, seja qual for o resultado das eleições nos Estados Unidos, Moscovo será acusado de “interferência” e é provável que se siga uma série de graves ataques cibernéticos contra a Rússia. Portanto, temos que nos preparar.
PS: Já foram realizadas as primeiras acções no âmbito das tácticas desenvolvidas pelo Cyber-Comando dos Estados Unidos. Em Agosto de 2020, o Departamento de Estado dos EUA começou a enviar mensagens SMS aos russos sobre uma recompensa de US $ 10 milhões por dados sobre a interferência nas eleições americanas. As apresentações fazem parte do programa Rewards for Justice. Em 5 de Agosto de 2020, o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, anunciou o início deste programa [ ].
https://www.economist.com/leaders/2010/07/01/cyberwar?story_id=16481504&source=features_box1
https://www.washingtonpost.com/people/marc-a-thiessen/
https://www.bbc.com/news/technology-48675203
https://news.yahoo.com/secret-trump-order-gives-cia-more-powers-to-launch-cyberattacks-090015219.html
https://www.buzzfeednews.com/article/christopherm51/state-department-reward-russia-election-interference-spam
Fonte: http://www.mientrastanto.org/boletin-195/de-otras-fuentes/la-quinta-esfera-de-la-guerra

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

A privatização das grandes bases de dados do país ameaça a privacidade dos brasileiros

 
Os impactos da venda da Dataprev e do Serpro serão analisados pelo ex-presidente da Dataprev, Rodrigo Assumpção, pelo diretor da Fenadados, Celio Stembach, e pelo presidente da Aned, Leo Santuchi. 

    
“Privacidade e segurança de dados: o grande perigo das privatizações da Dataprev e do Serpro” é o tema da conversa da próxima quarta-feira (4), às 17h30, com o ex-presidente da Dataprev Rodrigo Assumpção: com Celio Stembach, diretor da Federação Nacional dos Empregados em Empresas e Órgãos Públicos e Privados de Processamento de Dados, Serviços de Informática e Similares (Fenadados) e do Sindpd-RJ, sindicato da categoria no Rio Janeiro; e Leo Santuchi, presidente da Associação Nacional dos Empregados da Dataprev (Aned). O diretor do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge RJ), Felipe Araújo, vai conduzir o debate.
Indicada na lista de empresas a serem privatizadas, a Dataprev possui uma das maiores bases de dados da América Latina, responsável pelo pagamento mensal de cerca de 35 milhões de benefícios previdenciários e pelo aplicativo que libera o seguro-desemprego. Também reúne as informações previdenciárias da Receita Federal e faz o desenvolvimento dos programas que rodam nos postos da maior rede brasileira de atendimento público, a das Agências da Previdência Social, somadas aos postos do Sistema Nacional do Emprego (Sine). 
A empresa guarda e faz a gestão do Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS), que traz todo o histórico dos vínculos de trabalho de todos os brasileiros que já tenham contribuído para a Previdência ou recebido algum benefício. Um tesouro em informações e inteligência de dados, há muito tempo cobiçado pelo setor privado, em especial por instituições financeiras. 
Já o Serpro-Serviço de Processamento de dados da Receita Federal é a maior empresa de TI do país, presente em mais de 330 municípios. Faz a gestão dos dados relativos à Receita Federal, entre eles os do Imposto de Renda, atuando com finanças públicas e na integração da administração governamental. Seus serviços de rede movimentam um  volume superior a um bilhão de transações online anuais, com sistemas popularizados por siglas ou expressões como: Siscomex, RAIS, Renavam, Siafi, Siape, IRPF, Receitanet, Rede Governo, Siafem, Siapenet, Siorg, SIR, entre outros.
Juntas, as duas empresas têm os dados da vida de praticamente todos os brasileiros. Os debatedores vão analisar a extensão dos riscos e prejuízos para os cidadãos de se transferir esse ativo monumental ao mercado. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no estudo "A Caminho da Era Digital no Brasil", por exemplo, criticou a intenção do governo de privatizar a Dataprev e Serpro. A entidade alerta para a possibilidade de os titulares dos dados, ou seja, os cidadãos brasileiros, perderem o controle de suas informações pessoais – cedidas originalmente ao Estado --, que poderiam ser aproveitadas para propósitos c
omerciais.


A

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Visão crítica da relação entre jornalismo e democracia, por Carlos Castilho

 Até o início da era digital, o fluxo de notícias jornalísticas viabilizado pela imprensa era a principal fonte de informações que as pessoas dispunham para formar opiniões políticas.
Por
Ao criar uma suposta interdependência entre jornalismo e democracia, as elites políticas e empresariais dos Estados Unidos e Reino Unido, por volta de 1880, procuraram estabelecer um vínculo entre a atividade informativa e uma forma específica de governar. O objetivo seria criar um escudo moral para proteção mútua, garante o pesquisador norte-americano John Nerone, num trabalho apresentado no congresso da International Association for Media and Communication Research, em Istambul, em 2011.
O discurso adotado por liberais norte-americanos e britânicos acabou se expandindo para o resto do mundo, especialmente no século XX, após as duas guerras mundiais quando os países ocidentais procuravam exorcizar tanto a ameaça nazifascista, como a comunista. O fundamento teórico da associação entre jornalismo e democracia está no pressuposto de que a liberdade de informação é indispensável ao exercício da democracia, ou seja, para a o funcionamento de um tipo específico de regime político.
As novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) , surgidas na metade do século XX, acabaram gerando uma série de questionamentos à relação jornalismo/democracia no meio acadêmico, tanto nas escolas de comunicação social como nas faculdades de ciências políticas. A desconstrução teórica do modelo indicou a necessidade de atualização dos vínculos entre a produção jornalística e o sistema político vigente na maioria dos países ocidentais.
Professores como Barbie Zelizer, da Universidade da Pennsylvania, nos Estados Unidos, passaram a sugerir a hipótese de que o paradigma jornalismo/democracia está com seu “prazo de validade “ vencido, o que torna necessária a busca de um novo discurso sobre o papel do jornalismo na sociedade atual.
Zelizer acredita que a ideia da democracia como componente vital para o exercício do jornalismo perdeu a relevância adquirida no século passado porque houve uma incorporação dos princípios democráticos à cultura política da maior parte dos povos do planeta. Segundo a professora da Escola Annenberg de Comunicação, o jornalismo consegue sobreviver, e em alguns casos até prosperar, em países submetidos a regimes autoritários, como destacou em seu artigo On the shelf life of democracy in journalism scholarshipao analisar o surgimento de novas realidades sociais e tecnológicas para o exercício do jornalismo.
Até o início da era digital, o fluxo de notícias jornalísticas viabilizado pela imprensa era a principal fonte de informações que as pessoas dispunham para formar opiniões políticas. Mas a partir das últimas décadas do século XX , esta dependência acabou com a multiplicação de fontes de informação na internet o suprimento de notícias tornou-se tão abundante e diversificado que o jornalismo deixou de ser a condição indispensável para a sobrevivência do regime democrático.
Em compensação, a produção jornalística ganhou novas e transcendentais funções, como a da checagem da veracidade de notícias e o fornecimento de insumos informativos para a produção de inovações. O jornalismo passou a ser a grande ferramenta para acelerar, diversificar e aprofundar o fluxo de informações sobre dados, fatos e eventos indispensáveis à produção de novos conhecimentos.
A inovação é hoje o grande motor da economia digital e da melhoria das condições de vida da humanidade. Inovar significa recombinar informações para produzir algo melhor e diferente. Para que ocorra esta recombinação, que alguns chamam de remixagem numa analogia à música eletrônica, é indispensável que os insumos noticiosos sejam apresentados de forma atraente, clara, exata e pertinente, destacando a credibilidade e relevância contextual. É justamente isto que o jornalismo sempre se propôs a fazer.
 Jornal GGN
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segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Por que alguns pensadores acreditam que vivemos 'momento decisivo' da história humana Richard Fisher BBC Future 27 outubro 2020

 Se você está lendo estas palavras, saiba: você possivelmente está vivendo a época mais influente e decisiva para a humanidade de todos os tempos.

E a importância desse período já havia sido anunciada, acredite, antes da pandemia de coronavírus e de toda a crise política que se vê em vários cantos do mundo.
Quem diz isso são alguns filósofos e pesquisadores que têm se unido em torno da ideia de que vivemos o período da "dobradiça da história".
O termo vem do livro On what matters (Sobre o que importa, em tradução livre) do fil"Dadas as descobertas científicas e tecnológicas dos últimos dois séculos, o mundo nunca se transformou tão rapidamente. Pode ser que logo tenhamos maiores poderes para transformar não apenas nosso entorno, mas a nós mesmos e a nossos sucessores", escreveu o pensador, em 2011.ósofo britânico Derek Parfit.
"Vivemos o momento 'dobradiça' da história."
A essa ideia se somou, no ano passado, uma publicação do filósofo escocês Will MacAskill, da Universidade de Oxford, defendendo o chamado altruísmo eficaz, um movimento com o propósito de aplicar a razão e as evidências em prol do bem comum.
Sua publicação em um fórum gerou mais de 100 comentários de outros especialistas, sem contar os podcasts e outros artigos repercutindo-a.
Como escreveu Kelsey Piper, editora no site Vox, o debate sobre este momento decisivo na história é mais do que uma discussão filosófica abstrata: trata-se de identificar o que nossa sociedade deve priorizar para garantir o futuro da nossa espécie a longo prazo.
Para entender por que, vamos começar examinando os argumentos que sustentam a ideia de que o nosso momento é assim crucial.
Somos os mais influentes da história?
Nos últimos anos, cresceu a sustentação à ideia de que vivemos em um período de alto e incomum risco de autoaniquilação.
Como afirmou o astrônomo britânico Martin Rees: "Nossa Terra existe há 45 milhões de séculos, mas este século é especial. É a primeira vez que uma espécie, a nossa, tem o futuro do planeta em suas mãos."
Pela primeira vez, temos nas mãos ações que podem destruir de forma irreversível a biosfera, ou também tecnologias cujo uso equivocado podem causar um revés catastrófico à civilização, acrescenta Rees, cofundador do Centro para o Estudo de Riscos Existenciais da Universidade de Cambridge.
Esses poderes destrutivos estão além de nossa sabedoria, de acordo com o filósofo autraliano Toby Ord, também de Oxford.
Ord escreveu um livro chamado The Precipice (O Precipício) como uma alegoria de onde estamos: a um passo de um desastre.
Para ele, as chances de o mundo terminar este século são muito altas. Em sua opinião, o que torna nosso tempo particularmente decisivo é que criamos ameaças que nossos ancestrais nunca tiveram que enfrentar, como guerras nucleares e biológicas. E, além disso, não estamos fazendo o suficiente para conter essas ameaças.
A Convenção das Nações Unidas de Armas Biológicas, um compromisso global para conter o desenvolvimento de armas biológicas como um super coronavírus, tem um orçamento menor do que uma lanchonete corriqueira da rede McDonald's.
Superinteligência
A ideia de que estamos em um ponto de inflexão perigoso também dá munição ao segundo argumento daqueles que apoiam a hipótese da dobradiça.
De acordo com diversos pesquisadores renomados, existe a possibilidade de que no século 21 a inteligência artificial logo se transforme em superinteligência. E mais: a forma como lidamos com essa transição pode determinar todo o futuro da civilização.
Por si só, uma inteligência todo-poderosa pode marcar o destino da humanidade com base nos objetivos e necessidades que possui.
Assim, o futuro da civilização poderia ser moldado pelo primeiro a controlar a inteligência artificial. E isso pode fazer com que uma única força busque o bem de todos, ou que o poder seja usado de forma repressora.
Não há unanimidade sobre os efeitos a longo prazo da inteligência artificial (IA).
Mas mesmo entre aqueles que consideram pequenas as chances de um cenário catastrófico com IA, muitos reconhecem o enorme potencial de sua influência pode tornar as próximas décadas mais importantes do que qualquer outra da história da humanidade.
Por isso, muitos pesquisadores e organizações têm se dedicado a estudar a ética e a segurança envolvidas na inteligência artificial.
ClimaMão segurando amontoado de terra, com muda de planta crescendoCRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,
O astrônomo Martin Rees alerta que neste século 21 temos o futuro do planeta em nossas mãos
Luke Kemp, professor da Universidade de Cambridge, aponta que as mudanças climáticas causadas pela ação humana e pela degradação ambiental neste século podem ter implicações significativas no futuro.
"A transformação mais fundamental até agora na história humana foi a chegada do Holoceno, que permitiu a revolução agrícola."
Kemp aponta que as sociedades humanas parecem ter se adaptado para viver em um subconjunto surpreendentemente restrito de climas disponíveis na Terra — com temperaturas médias anuais em torno de 13 graus.
"Este é o século em que faremos um experimento geológico perigoso e sem precedentes e talvez nos empurremos para fora do nicho climático ou, pelo contrário, nos afastemos do abismo."
Também poderia ser argumentado que a relativa pouca idade da civilização nos torna particularmente influentes.
Temos apenas cerca de 10 mil anos de história humana, e pode-se dizer que as primeiras gerações têm a capacidade de mobilizar mudanças e valores que persistirão nas gerações futuras.
Podemos pensar na civilização de hoje como uma criança que carregará cicatrizes e traços formativos pelo resto da vida.
Mas nossa relativa juventude também poderia ser usada para argumentar o oposto, o que leva a uma pergunta óbvia: os primeiros humanos não viveram na época mais influente?
Afinal, bastavam alguns erros no Paleoceno ou o fim da revolução agrícola e nossa civilização nunca teria existido.
No entanto, MacAskill diz que, embora muitos momentos da história tenham sido cruciais, isso não significa necessariamente que tenham sido influentes.
Os caçadores-coletores, por exemplo, não estavam em posição de participar de um momento decisivo porque não tinham o conhecimento para saber que podiam mudar o futuro ou os recursos para seguir um curso diferente.
Ser influente, na definição de MacAskill, envolve a consciência e a possibilidade de seguir um caminho ou outro.
Por que isso importa
A definição de influência nos leva aos motivos pelos quais MacAskill e outros estão tão interessados neste estudo dos nossos tempos.
Encontrar respostas indicará a quantidade de recursos e tempo que a civilização deve dedicar aos problemas de curto prazo versus problemas de longo prazo.
Fazendo uma comparação a nível pessoal, se você acreditar que amanhã será o dia mais influente de sua vida — por exemplo, a data de um exame muito importante ou do seu casamento —, então você colocará muito tempo e esforço nisso imediatamente.
Mas se você acha que o dia mais influente de sua vida está a décadas de distância, ou você não sabe que dia será, você se concentrará em outras prioridades primeiro.
Onde investir
MacAskill é um dos fundadores do altruísmo eficaz e passou sua carreira buscando maneiras de alcançar o bem maior a longo prazo.
Se esta filosofia pressupõe que estamos agora em um ponto de inflexão, é preciso gastar bastante tempo e recursos para reduzir urgentemente os riscos existenciais de longo prazo.
Se, ao contrário, as pessoas acreditam que o momento dobradiça aconteceu há séculos, então elas se empenharão em outros problemas imediatos, como investir dinheiro em seus descendentes.
Alguns podem questionar os benefícios a longo prazo de se investir dinheiro, uma vez que vários colapsos sociais na história destruíram poupanças e fundos. Outros provavelmente sugerirão que o dinheiro deve ser investido na erradicação dos grandes problemas atuais, como a pobreza.
O principal objetivo dos altruístas eficazes é determinar o verdadeiro ponto de inflexão na história a fim de maximizar o bem-estar da espécie e garantir o florescimento futuro.
Outras visõesPintura egípcia mostra homem e vaca em atividade agrícolaCRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,
Um passo em falso na revolução agrícola e o futuro de nossa civilização teria sido muito diferente
O argumento mais simples contra a hipótese do momento dobradiça é uma questão de probabilidade.
Se conseguirmos sobreviver a este século e atingir a média de vida de um mamífero, estaremos falando de uma humanidade que durará cerca de um milhão de anos. Um período em que poderíamos potencialmente nos expandir para outras estrelas e nos estabelecer em outros planetas.
Além disso, ainda há, em teoria, um grande número de pessoas que nascerão no futuro. Mesmo se olharmos apenas 50 mil anos à frente, a escala das gerações futuras pode ser enorme.
Dado o número astronômico de pessoas que ainda deverão existir, diz MacAskill, seria surpreendente se nossa pequena fração de população atual fosse justamente a mais influente.
É provável que essas pessoas do futuro, com sorte, venham a ser também mais moral e cientificamente iluminadas do que nós. Assim, elas poderiam fazer ainda mais para influenciar o futuro de maneiras que ainda não conseguimos conceber.
Aqueles que acreditam que estamos vivendo um momento dobradiça também poderiam estar desenvolvendo raciocínios incompletos e falhos.
Talvez aspectos cognitivos estejam fazendo com que os eventos visíveis e contemporâneos pareçam mais importantes do que realmente são.
Vivendo na década de 1980, por exemplo, poderia-se pensar que o maior risco para a humanidade seria a nanotecnologia.
Além disso, existe a possibilidade do viés de confirmação. Em outras palavras, se você realmente acha que os riscos existenciais merecem mais atenção, é provável que desenvolva inconscientemente os argumentos que sustentam essa conclusão.
Por essas e outras razões, MacAskill acha que provavelmente não estamos vivendo na época mais influente.
Pode haver argumentos convincentes para pensar que estamos vivendo em uma época especialmente complicada em comparação com outros períodos, mas dado o futuro potencialmente longo que aguarda nossa civilização, esse tempo provavelmente ainda está por vir.
Vantagens se o momento dobradiça não existir
Embora possa parecer decepcionante concluir que não somos as pessoas mais importantes de todos os tempos, na verdade, isso pode ser positivo.
Se você acredita que existe uma "época de perigos", então o próximo século será especialmente arriscado para se viver, possivelmente exigindo sacrifícios significativos para garantir a sobrevivência da nossa espécie. E como Kemp aponta, a história ensina que quando há muitos medo de que uma utopia futura esteja em jogo, coisas desagradáveis são feitas em nome dela.
"Os Estados têm uma longa história de medidas draconianas para responder às ameaças percebidas, e quanto maiores as ameaças, mais severo é o uso desse poder emergencial", diz Kemp.
Por exemplo, alguns pesquisadores que buscam formas de prevenir cenários desastrosos decorrentes da inteligência artificial acreditam que possamos precisar de um sistema de vigilância global onipresente que monitore cada pessoa viva o tempo todo.
Mas se a vida em um momento decisivo exige sacrifícios, isso não significa que uma época que não tenha essa característica possa ser vivida com total desleixo.
Neste século, podemos infligir danos significativos a nós mesmos, e não necessariamente catastróficos ou aniquiladores de espécies.
No século passado, descobrimos inúmeras maneiras de deixar heranças malignas para nossos descendentes, desde o carbono na atmosfera até o plástico no oceano e o lixo nuclear no subsolo.
Portanto, embora não saibamos se o nosso tempo será o mais influente ou não, podemos dizer com mais certeza que temos um poder crescente para moldar a vida e o bem-estar de bilhões de pessoas que viverão amanhã, para melhor ou para pior.
Caberá aos historiadores do futuro julgar se usamos bem essa influência.


sábado, 31 de outubro de 2020

"Fábricas de cretinos. É assim que um neurocientista francês chama as telas dos dispositivos digitais.



SOS
Já transmitimos, em post anterior, algumas conclusões desse cientista. Mas queremos oferecer uma visão mais aprofundada do assunto.
Para isso, traduzimos trechos de uma entrevista que ele deu a um periódico espanhol, quando do lançamento do seu livro na Espanha.
O artigo original encontra-se no site ReligionenLibertad.com
As afirmações chegam a ser bastante fortes. Mas não podemos fugir à realidade dos fatos. Para ele, seguindo a opinião de outro especialista, a geração atual é “a mais estúpida que já houve”.
As telas afetam ‘gravemente’ a inteligência da criança
Michel Desmurget é um firme opositor ao uso, e sobretudo ao abuso, dos dispositivos digitais por crianças e adolescentes.
E faz essa afirmação desde uma posição que lhe permite conhecer gravemente os perigos embutidos nas telas. Ele é doutor em Neurociência e diretor de investigação do Instituto Nacional da Saúde da França.
Acaba de apresentar em espanhol seu livro “A fábrica de cretinos digitais”, um título controvertido mas que garante estar totalmente justificado pelos estudos e estatísticas.
Em uma entrevista para o diário El Mundo, explica de forma contundente que “as cifras são dramáticas”. Assinala o especialista francês:
“Nos países ocidentais, as crianças menores de dois anos passam diariamente quase três horas diante de uma tela, entre os oito e os 12 anos estão quase cinco horas por dia, dos 13 aos 18 seu consumo toca as sete horas diárias…
Se somamos todo o tempo que um menino passa entre 2 e 18 anos diante de uma tela, isso equivale a 30 anos escolares, a mais de 15 anos de emprego com jornada laboral completa.
E isso apenas se medimos o uso de telas por motivos recreativos e deixamos de fora o tempo que as utilizam no colégio ou para fazer deveres”.
A geração mais estúpida?
As telas criam cretinos e idiotas, como assegura o título? Na opinião de Desmurget, “é hora de falar claro, porque a gente precisa despertar”.



O doutor em neurociência afirma que há quem minimize o efeito das telas, quando na realidade têm um “efeito devastador”.
De fato, influi em que “a inteligência se baseia na capacidade de poder memorizar, e tudo isso se vê gravemente afetado pelo uso dos dispositivos digitais”.
“As telas afetam tudo aquilo que nos faz humanos: a linguagem, a capacidade de pensar, de raciocinar, de memorizar… Numerosos estudos corroboram essa afirmação”.
E não apenas os estudos. “Eu estou em contato – agrega – com muitos professores, fonoaudiólogos e psicólogos infantis que não leem a literatura científica, mas que estão em contato direto com as crianças”.
“E o impressionante é que o que eles veem coincide plenamente com o que os estudos dizem”.
Ele dá o exemplo de Mark Bauerlein, professor da Universidade Emory de Atlanta (EUA), que defende que esta é a “geração mais estúpida que já houve”.
Neste sentido, Desmurget assegura que os cientistas concordam em que a linguagem, a capacidade de atenção e a de memorização reduziram-se nesta geração.
Existe hoje a ideia de que não é preciso memorizar nada porque tudo está na internet. E se, para se fazer por exemplo um algoritmo, você pode ir ao Google e pesquisar como se faz, o problema é que em sua cabeça você tem que ter todos os conhecimentos anteriores.
Um problema de vício
Ademais, o diretor de investigação do Instituto Nacional da Saúde da França sustenta que as telas não apenas estão criando “cretinos”, mas também viciados.
“Há vários estudos que sugerem com força que com as telas se pode desencadear o mesmo mecanismo cerebral que com outros vícios.
A maioria das investigações nesse sentido assinalam que entre 3% e 5% dos usuários são viciados. Parece uma proporção pequena, porém 1% na França supõe meio milhão de pessoas.
Porém, mesmo se não se tratasse de um vício, continuaria sendo um problema”, afirma.
Por outro lado, Desmurget aleta sobre os efeitos das telas nos cérebros dos pequenos.
“Há quem diga que é preciso viver com os tempos modernos, o problema é que o cérebro das crianças não foi criado para essa imundície”, afirma, ante os que justificam que é preciso aceitar o avanço tecnológico sem reservas.
Entretanto, adverte que
“um cérebro tem necessidades, precisa de interação humana, precisa dormir, precisa de atividade física (agora sabemos que a atividade física é importante para que um cérebro amadureça), precisa de estímulos e muitas outras coisas. E nada disso as telas proporcionam.
É claro que o cérebro pode se adaptar. Porém, que se adapte a uma situação não quer dizer que funcione melhor que em outra.
Se você sobe ao pico de uma montanha de 6.000 metros, se adapta. Mas não funcionará tão bem como ao nível do mar.
E com o cérebro dá-se o mesmo: não funciona da mesma maneira no ambiente para o que foi construído que outro ambiente”.
Bebê Einstein
“Você sabe o que é Bebê Einstein?”, pergunta o especialista à entrevistadora. E ele mesmo explica que “são uns vídeos de Disney para bebês propagandeados como educativos. Porém, demonstrou-se que os bebês que os viam tinham problemas de linguagem, que seu vocabulário era muito reduzido”.
Um grupo de pais ameaçou entra com ações judiciais, e antes que isso ocorresse a Disney decidiu pagar grossas indenizações e retirar a palavra ‘educativo’ desses produtos.
“Estou seguro que as telas vão se tornar o próximo grande problema de saúde pública. Contudo, há muito dinheiro envolvido”.
O especialista em Neurociência conclui:
“Eu não gostaria que ninguém viessa a minha casa para me dizer como devo criar meus filhos. Mas o que me parece importante é que os pais recebam a informação correta.
Um pai, com os dados à mão, duvido muito que deixe que seu filho de 12 anos esteja o dia inteiro com o iPad; se decide que sim, estou disposto a aceitar, é assunto privado dele.
O que não suporto é que haja pais que, de boa fé, fazem do iPad a grande ferramenta para a educação de seus filhos, para que aprendam, para sua inteligência…
As evidências mostram que a verdade é exatamente o contrário, porém creem nisso porque estão desinformados. E também porque há pretensos especialistas que vão por aí dizendo que os videogames são bons para o rendimento escolar e outras asneiras desse tipo, que só geram confusão”.

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Não há “good guys” no confronto entre a Google e o governo americano

 


Por seu lado, o chamado Grupo das Cinco Grandes (Big Five Group no jargão norte-americano) não esconde o seu objetivo expansionista, alimentado pela corrida frenética por inovações, usando como matéria prima informações e a atenção fornecidas gratuitamente por quase três bilhões de usuários da internet em todo o mundo. As Cinco Grandes da era digital tiveram, conjuntamente, em 2019 uma receita bruta estimada em 899,2 bilhões de dólares, um lucro líquido de US$ 158,8 bilhões e possuem um valor de mercado avaliado em 6,4 trilhões de dólares.
Nesta queda de braços entre o lobby do establishment político/financeiro/empresarial e a nova elite tecnológica não há o que os norte-americanos batizaram de Good Guys (Bons Garotos) porque a acusação de práticas monopolistas levantada contra a Google é claramente apoiada por setores econômicos que também já foram acusados de ignorar o princípio da livre concorrência.
O que na verdade está em jogo é uma batalha política, jurídica e financeira onde o establishment dos Estados Unidos tenta controlar o enorme crescimento das empresas de tecnologia de ponta que ameaça a supremacia, e em alguns casos, a própria sobrevivência de corporações tradicionais que enfrentam uma traumática adaptação às novas condições impostas pela chegada da era digital.
Não dá para apostar num vencedor, pelo menos a curto prazo, porque as empresas de tecnologia têm a seu favor a irreversível digitalização da vida contemporânea, logo têm um faturamento garantido. Mas não têm o controle dos centros políticos, financeiros e empresariais onde são tomadas as grandes decisões nacionais. Já os grupos tradicionais sabem que não podem mais frear o avanço da tecnologia, o que significa perder posições nos negócios e na política, mas ainda têm força institucional suficiente para arrancar concessões dos tecnófilos de Silicon Valley, a meca da nova era digital.
Uma luta de gigantes
É um confronto de gigantes onde um lado tenta ganhar tempo no esforço para conciliar a herança analógico/mecânica ao novo ambiente cibernético, enquanto o outro aproveita a volúpia por inovações para conquistar posições chaves na economia. A previsão é de que o Big Five Group continue avançando em matéria de poderio financeiro às custas das dificuldades enfrentadas pelos segmentos tradicionais na indústria, comércio e finanças.
Mas terá que negociar em questões pontuais como é o caso atual do processo por práticas monopolistas. Trata-se de uma questão juridicamente complexa porque a legislação americana é vaga no que se refere a violações da livre concorrência. A Microsoft já foi punida em 1997 pelo DoJ, porque obrigou outras empresas a usarem o navegador Explorer sob pena de não poderem usar o sistema operacional Windows. Mas o caso da Google é diferente e não tem enquadramento legal claro, porque a empresa paga para o seu sistema de buscas ser usado nos produtos da Apple. A mesma Google responde a três processos por violação da livre concorrência nos países da União Europeia, envolvendo uma multa de oito bilhões de Euros (cerca de 53 bilhões de reais).
Esta é uma das muitas questões envolvidas na transição do paradigma analógico nas relações econômicas, políticas, sociais e culturais para um modelo baseado em práticas, normas e valores baseados na realidade digital. Estamos apenas no começo desta transição que implica muitas incertezas e inseguranças dada a natureza exploratória do caminho rumo à digitalização. Sempre que ocorreram mudanças de paradigmas globais, ao longo da história humana, as incertezas geraram conflitos nem sempre pacíficos. A torcida de todos nós é que apareçam “good guys” capazes de conciliar o velho e o novo nesta transição de modelos.

Governo dos EUA abre contra Google maior processo antitruste em 20 anos Redação

 O Departamento de Justiça dos Estados Unidos e 11 Estados do país entraram com uma ação antitruste contra o Google hoje (20), acusando a companhia de usar seu poder de mercado para afastar rivais.
O processo marca o maior caso antitruste em uma geração, comparável ao processo contra a Microsoft movido em 1998 e ao processo contra a AT&T, de 1974, que levou à dissolução do Sistema Bell.
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O processo alega que o Google agiu ilegalmente para manter sua posição nos mercados de busca e publicidade na internet. Ele afirma que “na ausência de uma ordem judicial, o Google continuará executando sua estratégia anticompetitiva, prejudicando o processo competitivo, reduzindo a escolha do consumidor e sufocando a inovação”.
“O Google é agora a porta de entrada incontestável para a internet a bilhões de usuários em todo o mundo…Para o bem dos consumidores, anunciantes e todas as empresas norte-americanas que agora dependem da economia da internet, chegou a hora de parar a conduta anticompetitiva do Google e restaurar a concorrência”, afirma a ação.

Quando questionado em uma teleconferência sobre a ação específica a ser tomada, um funcionário do Departamento de Justiça disse: “nada está fora de questão”.
Representantes do Google não comentaram o assunto. A companhia teve receita de US$ 162 bilhões em 2019, mais do que o Produto Interno Bruto (PIB) de países como Hungria, Ucrânia e Marrocos.
O senador republicano Josh Hawley, um crítico feroz do Google, acusou a empresa de manter o poder por “meios ilegais” e chamou o processo de “o caso antitruste mais importante em uma geração”.
O processo da Microsoft recebeu o crédito por abrir caminho para o crescimento explosivo da internet, uma vez que a ação impediu a empresa de tentar enfraquecer concorrentes.
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O processo federal de hoje marca um raro momento de acordo entre o governo Trump e os democratas progressistas. A senadora Elizabeth Warren tuitou em 10 de setembro, usando a hashtag #BreakUpBigTech, que ela queria “ação rápida e agressiva”.
Ocorrendo poucos dias antes da eleição presidencial dos Estados Unidos, o momento do processo pode ser visto como um gesto político, pois cumpre uma promessa feita pelo presidente Donald Trump a seus apoiadores de responsabilizar empresas por supostamente sufocarem vozes conservadoras.
As ações da Alphabet, controladora do Google, subiam quase 1% após a notícia. Há alguma dúvida nos mercados se os parlamentares de Washington podem realmente se unir para tomar uma ação contra a empresa, de acordo com Neil Campling, chefe de pesquisa de mídia de tecnologia e telecomunicações da Mirabaud Securities em Londres.
“É como trancar a porteira depois que o cavalo fugiu. O Google já assumiu a posição de monopólio, investiu bilhões em infraestrutura, IA, tecnologias, software, engenharia e talento. Você não pode simplesmente desfazer uma década de progresso significativo.”
Os 11 Estados que aderiram à ação têm procuradores-gerais republicanos.
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Mais ações judiciais podem estar acontecendo, já que estão em andamento investigações por procuradores-gerais estaduais, bem como uma investigação sobre os negócios mais amplos de publicidade digital da empresa. Um grupo de procuradores-gerais liderados pelo Texas deve abrir um processo separado focado em publicidade digital já em novembro, enquanto um grupo liderado pelo Colorado está contemplando uma investigação mais ampla contra o Google.
O processo do Departamento de Justiça ocorre mais de um ano depois que o órgão e a Comissão Federal de Comércio (FTC) começaram investigações antitruste sobre Amazon.com, Apple, Facebook e Google.
Sete anos atrás, a FTC fechou acordo com a empresa em uma investigação antitruste que acusava o Google de favorecer seus próprios produtos em resultados de buscas dos usuários. O acordo foi contestado por alguns advogados da equipe da FTC.
O Google tem enfrentado desafios legais semelhantes no exterior. A União Europeia (UE) multou a companhia em US$ 1,7 bilhão em 2019 por impedir que sites usassem serviços rivais para encontrarem anunciantes, US$ 2,6 bilhões em 2017 por favorecer seu próprio produto de shopping em resultados de pesquisas e US$ 4,9 bilhões em 2018 por bloquear rivais em seu sistema operacional Android. (Com Reuters)